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terça-feira, 21 de junho de 2016

SEMPRE AMEI MISTÉRIOS E TALVEZ POR ISSO TENHA ME TORNADO UM

Sic transit gloria mundi. Tenho uma admiração por esta expressão latina. E gosto em particular por conta do advérbio ou melhor a conjunção ou locução adverbial “assim”. Ela indica como acaba, como é a conclusão da sentença, e na expressão em latim como acaba a glória do mundo. Ela sempre me faz pensar como vai acabar a minha passagem no mundo. Eu preciso frente os prognósticos das possibilidades, reconhecer que poucos ou talvez ninguém me conhece, não realmente ao ponto de emitir prognósticos. Isso em parte por que sempre amei mistérios, e talvez por isso tenha me tornado um. Os que mais sabem de mim só sabem algo próximo da metade. Não deixo, nunca deixei e quem sabe nunca deixarei todos os meus mistérios escaparem de mim. Aos mais próximos antecipo minhas desculpas e ressalto que apenas é assim porque não quero assustar vocês com meu verdadeiro eu. E hoje resolvi dar um pouco a mais de mim para que todos, ou apenas aos poucos e raros que acompanham meus escritos: Tenho minha glória no mundo e ela é literalmente ser outra pessoa. 

Vejam, isso é como eu me identifico, e para mim identidade é toda amostra pela qual o indivíduo se atribui, mas isso prioritariamente por intermédio de um relato, uma declaração de continuidade com relativa coerência, é onde eu tento circunscrever uma diferença marcante, especifica dos demais. E meu relato é que meu cérebro sempre fervilha, minha cabeça está sempre dia após dia cheia de vozes. É como se eu fosse seguido por um genioso enxame de almas que usam as ligações elétricas do meu cérebro para conversar umas com as outras e por vezes preciso abrir as comportas de ideias que borbulham, umas precisam ser descartadas. Acredito sem a menor pretensão de presunção que possuo um considerável superávit intelectual que deve ser descarregado constantemente. Ou seja, a intervalos regulares, preciso me sentar e aliviar o excesso de ideias. E as vezes tenho a certeza de ter formulado o axioma mais genial do mundo. E logo em seguida não tenho mais tanta certeza. Com essa luta eu acabo raramente lembrando de algo e não formulo coisa alguma.

Sou muito instável e qualquer solavanco que o carro da vida da eu me desnorteio, me acabo em lagrimas e juras de ódio à vida.Mas essa é minha terra invisível, pois, como disse há em mim mais mistérios do que alguém possa imaginar. Há em mim duas forças, uma delas quer viver e me puxa para cima e a outra nem tanto. É a partir desse momento que somatizo todos os medos que carrego comigo e que poderá, no futuro, me impedir à abertura para o outro e para a saída de mim mesmos, é a partir desse momento que posso me fechar de vez para o encontro, ou então, torno-me, de vez, um ser aberto ao amor e ao ódio. No entanto, se ultrapassada esta fase, que também não termina, entro, enfim, de pés no chão e corpo ereto, porém não sem marcas, na fase da melodia da relação de vida fluída, fazendo de mim mesmo uma melodia harmoniosa.

Nessa nova melodia os acordes dissonantes das paixões da minha infância se encaixarão agora como complemento harmônico de toda a melodia, os de átona invertida, da adolescência, agora serão a marcação do ritmo, e os acordes simples e perfeitos da maturidade, garantirão a harmonia de minha vida que me fará sentir como se sente um noturno de Chopin. Acredite nisso, só não é verdade. Eu não consegui passar de fase, eu parei nas notas tônicas da adolescência que não queria se livrar de toda a discordância da infância. Isso me levou pra maturidade sem uma partitura de vida pronta, ou pelo menos uma base rítmica capaz de criar uma melodia minimamente harmoniosa. Cheguei apenas com uma utopia que a filosofia me fez querer realizar que reclamo durante os fragmentos de felicidade, mas que também me fez vociferar, neste manifesto, pela falta de quem a ouça, pois, são apenas assobios silenciosos de uma ausência.E, se é verdade o que dizem; que a utopia é um lugar que não existe, também tendo em vista a verdade ouso afirmar, que a ausência, é um lugar outrora ocupado.

Portanto, a utopia é mesmo um sonho indispensável aos que querem construir algures o real. E o princípio para tornar este sonho concreto é acreditar, pois toda utopia é um sonho verossímil, e como todo sonho, traz consigo a possibilidade do despertar. Ainda vejo tempo pra reescrever minha nova nona sinfonia, e ao final, quando assim acabar a glória do meu mundo, espero ter alguém pra ouvi-lá.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

SOMOS E SEREMOS SEMPRE COMPANHEIROS, MUITO OBRIGADO

Foram 20 dias de Luta, 20 dias de resistência, 20 dias de história. Pela primeira vez na UEAP, pela primeira vez no Amapá uma universidade foi totalmente ocupada. Ocupamos pelos professores, ocupamos pelos Técnicos Administrativos, ocupamos pelo terceirizados, mas principalmente, ocupamos pela Educação. Nesses 20 dias aprendemos muita coisa, mas também ensinamos muito. Aprendemos que a só com luta conseguimos avançar, e avançamos muito. Mesmo com toda desinformação, com todas as  críticas, mesmo com todo terror psicológico. Nos mantivemos inabaláveis e provamos a legitimidade de nossa luta. E mais uma vez ensinamos que unidos somos mais fortes e que nosso combustível é a fome e o desejo de  um dia ter uma universidade de fato Pública,Gratuita e de qualidade... E quando esse dia chegar a UEAP possa enfim atender as necessidades de desenvolvimento, de emancipação e de progresso do Amapá. Ainda falta muito a se fazer e esse dia ainda vai demorar, mas não confunda nossa momentânea pausa com o final da luta. Pois é justamente o contrário, esse é apenas o inicio, e que mesmo diante de tanta gente torcendo contra, iremos continuar lutando, iremos continuar ocupando, iremos continuar resistindo. Porque nós escolhemos lutar.
Gostaria de agradecer pessoalmente a cada um dos meus companheiros que se jogaram nessa trincheira da luta por uma educação de qualidade, e no oportuno irei fazê-lo, pois cada um marcou em mim algo mais que especial, e à vocês devo meu eterno obrigado. Contudo, queria agradecer a um grupo em especial, queria com os meus mais sinceros sentimentos agradecer aos professores que durante esses 20 dias se mantiveram inabaláveis em nos ajudar, em nos manter fortes e resistindo junto conosco.
Há pessoas que marcam a nossa vida, que despertam algo especial em nós, que abrem nossos olhos de modo irreversível e transformam à nossa maneira de ver o mundo. e por essas pessoas os seus ensinamentos foram muito além dos conteúdos do currículo, muito além da pesquisa ou da extensão. Tivemos aprendizados importantes para a vida. O que todos vocês fizeram por nós foi muito além do que a missão de um professor, vocês foram verdadeiros mestres. Vocês souberam despertar a nossa admiração de um modo único, e se tornaram uma inspiração para nós.
Muito obrigado pela sua dedicação, paciência e carinho nesse momento histórico para a educação do Amapá. Nós só podemos agradecer por ter feito parte das nossas vidas, e tenha certeza de que tudo o que aprendemos, vamos levar por toda a nossa vida.
Sei que posso acabar esquecendo alguém, e se isso acontecer me perdoem, mas meu carinho e minha gratidão é por todos. Então Muito Obrigado:
Obrigado Professor Daímio Brito por sua disponibilidade e seus conselhos; Obrigado Professora Danielle Dias por sua garra e sua vontade de lutar; Obrigado Professora Rafaela Araújo pelo companheirismo e por toda alegria; Obrigado Professora Marcela Videira pela disponibilidade e pela preocupação, e obrigado pelo ótimo almoço; Obrigado Professora Kátia Paulino por cada palavra de ajuda, por toda preocupação e por todo carinho, você é maravilhosa; Obrigado Professor Sérgio Filho (professor Serginho) pela incrível dedicação e por toda ajuda e todas as horas, quando crescer quero ser igual você; Obrigado professora Héryka Nogueira por cada minuto de empenho e apoio; Obrigado Professora Marineide Almeida por toda carinho, todo apoio, por cada palavra de ajuda e de superação; Obrigado Professor Luciano Araújo pela experiência nos conselhos e nos ensinamentos; Obrigado Professor Janilson Barbosa pelos momento de diversão, pelo companheirismo e por cada dia de luta; Obrigado a Professora dos Gatinhos que nos ajudava com seu amor pelos animais; enfim, muito obrigado a todos, sem vocês nada do foi teria sido. Serei eternamente grato e podem contar comigo sempre... Onde houver o mais fraco sendo injustiçado, conte comigo pois somos e seremos sempre companheiros.
#OcupaUEAP
#OcupaTUDO
#JuntosSomosMaisFortes
#LuteiAoLadoDosMelhores


quarta-feira, 4 de maio de 2016

Mentiras e Promessas Parte 06: As Máscaras caíram



Existe um provérbio que era bastante popular na Roma Antiga que dizia: Auribus teneo lupum, que em uma tradução literal significa algo parecido com "segurando um lobo pelas orelhas". Era usado quando a situação era insustentável, e particularmente quando fazer nada ou fazer alguma coisa para resolver um problema era igualmente arriscado. E é exatamente assim a atual situação da Universidade do Estado do Amapá, na verdade é assim que os protagonistas do movimento grevista se sentem. E digo protagonista no sentido grego da palavra: πρωταγωνιστής (protagonistes), de πρῶτος (prótos) = primeiro e ἀγωνιστής (agonistès) = o que agoniza; ἀγών; "O que agoniza primeiro".

Quem vive disposto a sair do muro e percebe que água morna não serve nem para fazer chá, deve ter em vista também que ser protagonista, sair do muro, ser radical, lutar até o fim, não ser morno implica também que você pode ser o primeiro a agonizar. Mas isso não me assusta e nem assusta os bons que lutam todos os dias por uma universidade de qualidade. Contudo, tem os que se assustaram, mas não se assustaram com a luta e sim com a possibilidade de perder sua vaidade pessoal. Nesse momento as máscaras caíram. Uns que diziam estar lutando pela UEAP na verdade lutavam por interesses outros que não a universidade e correram para o lado da gestão golpista e omissa. 

A situação é difícil, é insustentável e parece que fazer algo pode ser tão problemático como não fazer nada, mas para alguns não fazer nada não é uma opção. Podemos morrer tentando mas não vamos pecar por omissão. A nossa universidade que sempre pareceu dividida entre licenciatura de um lado e engenharia de outro, hoje assumiu uma divisão muito mais negritada do que uma pugna de ego acadêmico. Hoje a UEAP esta claramente dividida entre os que acreditam e querem lutar e os que se omitem, entre os que defendem a educação pública e os que defendem a gestão golpista e suas gratificações, é a velha metáfora da divisão entre colônia e metrópole, casa grande e senzala, cidade baixa e favela, Xiita e Sunita....

Então eu não vou deixar margem pra confusão e vou gritar pra você e seus apaniguados ouvirem:

#EuSouFavela 
#EuSouSezala 
#PrefiroSerXiitaDoQuePelego 
#EUsouUEAP

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Mentiras e Promessas Parte 05: A RETRATAÇÃO

"Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia. Capazes de formar grandes sofrimentos e também de remediá-los." (APWBD)

Quem tem acompanhado minhas publicações já deve estar por dentro da seqüência intitulada "Mentiras e Promessas", e espero que tenham percebido que elas nada mais são do que um grito de indignação frente a atual situação da UEAP. Contudo, elas podem transmitir uma mensagem que não é a real intenção do texto, e pelo que sei podem formar sofrimentos. Uma dessas postagens acabou de maneira involuntária ofendendo a honra objetiva e mesmo subjetiva do Senhor Albino Lutiani da Costa Brito, e o mesmo em seu direito legal recorreu a 6ª delegacia de Policia a fim de esclarecer os fatos.

Nesse sentido Eu, Fábio Luiz Lacerda de Freitas, estou aproveitando a mesma ferramenta para me RETRATAR de algo que possa ter ofendido a pessoa em referência. Essa nunca foi e nunca será minha intenção. Ressalto que no oportuno falei que sua nomeação à Pró-reitoria era ilegal, e só afirmei isso tendo em vista o PCCR dos docentes da UEAP que em lei assegura essa nomeação apenas a docentes.  Nunca tive a intenção de dizer que o senhor Albino Lutiani era inapto pro cargo, muito pelo contrário. Sempre defendi em minha militância estudantil a participação de todos os setores da Universidade na gestão da mesma.

Como discente da UEAP e militante do Movimento Estudantil tenho dedicado horas de estudo, pesquisa, leitura e reflexão ao propósito de sempre enaltecer o domínio da linguagem (especialmente escrita) e o senso crítico, e todas minhas palavras só tem o intuito de melhorar minha vida acadêmica e a própria universidade. Nunca quis ferir objetiva ou subjetivamente a honra do senhor Albino Lutiani ou tão pouco de quem quer que seja. Espero que a partir de hoje isso fique claro e que qualquer dúvida que surgir seja resolvido e pautado no respeito mútuo e no diálogo franco. Para que a liberdade de expressão em nossa Universidade não perca espaço para o interesse privado ou para as razões particulares.

No mais espero poder sempre falar e me expressar e se involuntariamente machucar ou ferir alguém espero também por minhas palavras remediar o mal.....

  

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

AOS BONS A HORA DE COBRAR E MUDAR CHEGOU. AOS RATOS ACONSELHO QUE CORRAM. FELIZ 2016.1

Mais uma pérola vinda direto dos porões da “ditadura acadêmica” que se estabeleceu através de golpe na Universidade do Estado do Amapá. Soube que o Reitor e seus apaniguados já escolheram uma comissão para mudar o regimento da Universidade, detalhe: tal comissão é composta exclusivamente por Docentes, e lógico, dispostos a rezar na cartilha do Reitor golpista. Simplesmente desconsideram os demais setores que compõem a UEAP e se comportam como donos da Educação Pública do Amapá.

Às vezes me pergunto o porquê de tanto descaso e arbitrariedades, talvez seja por ignorância ou por incompetência, mas se são profissionais rigorosamente selecionados para o cargo que ocupam o que explicaria esse cenário? Assim só me resta inferir que não passa da velha e suja vigarice ou ainda canalhice. O atual grupo que ocupa a administração da Universidade do Estado do Amapá, mostra sua face outrora oculta e se revela arbitrária e ancorada na ilegalidade ou mesmo imoralidade que os conduziu aos gabinetes que ocupam. Não se preocupam de fato com ensino, pesquisa e extensão. É uma Universidade de faz de conta, uma Universidade acéfala e com um futuro cada vez mais incerto.

Para esse pequeno grupo (ou pelo menos a maioria deles) a UEAP se tornou a extensão de suas posses, tratam o funcionamento da Universidade como se tratassem de valores particulares, são os verdadeiros ditadores dos caminhos por onde a Universidade pretensamente deve caminhar. Decidem ao bel-prazer tudo, sem consultar os demais setores que compõem a UEAP. E tais decisões caminham para uma verdadeira “ditadura acadêmica”, algumas dessas decisões, como a do Senhor Pró-reitor ilegal, assim como essa famigerada comissão, simplesmente versam sobre o direito mais basilar da democracia, o direito de ir e vir. Somente ele é quem deve determinar os horários que Docentes e Discentes devem entrar e sair da Universidade, só eles tem legitimidade pra mudar o Regimento universitário. Resta-me uma pergunta senhor Pró-reitor, Senhor Reitor e senhores da aludida comissão: “o que vai ser em seguida?”. Será que pretende determinar via Ordem de Serviço o que devemos falar? Quem pode falar? Ou mesmo se deveremos ser seus servos? 

Com esse tipo desviante de comportamento acabam por desprezar valores, conceitos e protocolos, que a tanto custo fora necessário para instituí-los como essenciais na condução de entidades democráticas e livres da opressão. Mas, enquanto a nossa universidade sucumbe, e a administração oferece um modelo autoritário, e que fique registrado com a conivência do Estado, a comunidade acadêmica faz papel de incultos e incautos, aceitando de bom grado a mediocridade ampla, subserviência geral e irrestrita, que só interessa aos viciados em poder. 

Desde que me percebi no mundo, ouço todos os especialistas dizerem que a principal causa do abastardamento da “vida pública” no país, é resultado do descaso com a educação, e com uma ou outra exceção, isso é verdade. Contudo, os governos não são os únicos responsáveis pelo abandono da educação. A omissão dos afetados por esse descaso também corrobora com o cenário do apocalipse educacional. Não devemos nos mostrar incapazes de reagir aos constantes ataques aos nossos direitos, ao nosso dinheiro e principalmente a nossa respeitabilidade, como, agora na UEAP dão a entender. 

A raiva crescente motivada pela indignação é o nosso caminho, e é sim perigosa, mas, sobretudo, aos que se beneficiam do retrocesso da Universidade, e sim, vocês devem temer o poder que vem da luta por uma educação de qualidade. A Pessoa que trata a Universidade e o bem público como extensão de seus bens é apenas a versão artesanal dos corruptos que saqueiam os cofres públicos. Não seremos prisioneiros da necessidade tão pouco do medo. Não iremos permitir que implantem na UEAP aulas obrigatórias de medo, impotência, amnésia e resignação. 

O ano de 2016.1 se aproxima e com ele chega os prazos limites para todas as mudanças reivindicadas em 2015 e prometida pelo Estado e pela Administração da Universidade, e não esqueceremos os que se esqueceram da luta, os que se acovardam e os que simplesmente querem administrar a UEAP como uma ditadura. Vamos à Luta. Aos bons a hora de cobrar e mudar chegou. Aos ratos aconselho que corram.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O rock nacional nos fez ter vergonha da nossa cultura, dos nossos cabelos e dos nossos sotaques - e eu aplaudi isso metade da minha vida.


Phil Anselmo (ex-vocalista do Pantera) fez uma saudação nazi e chocou o mundo gerando uma série de discussões sobre o heavy metal ser ou não um gênero musical reaça. Me lembrou de uma entrevista do Seu Jorge que dizia que “rock não é um gênero pro negro”. Lembro que depois dessa entrevista, muitos brancos quiseram ensinar pro negro Seu Jorge como o rock havia sido criado por negros como Chuck Berry e Little Richard e eletrificado pelo negro Jimi Hendrix. Teve até gente que desenterrou a única grande banda de hardcore negra (Bad Brains) e os roqueiros do Living Colour para ensinar ao Seu Jorge o que ele seria incapaz de aprender com a experiência.

Eles estavam errados, claro, mas eu também estive a maior parte da minha vida.

Quando era um moleque rebelde que me achava o lumpemproletariado em pessoa por ser mais pobre que meus coleguinhas de escola, eu julgava que o rock era a música da rebeldia, a trilha sonora da revolução. Stones, Nirvana, Ramones, Rage Against The Machine… Quer coisa mais contestadora que o rock n’ roll? Do alto da sabedoria da minha adolescência, eu achava que quem ouvia pagode, axé, sertanejo, funk e outros gêneros populares era ignorante. Eu também decidira que a música clássica branca e o jazz negro, que papai ouvia em casa, eram um saco, música chatíssima. Portanto, além de libelo libertário, o rock era um símbolo de alta cultura, letras elaboradas e complexidade musical. Eu não tinha dúvidas que Max Cavalera devia ser um músico melhor que João Gilberto. E não sabia que traduzindo as letras do AC/DC ou do Elvis eu ficava com algo próximo de um funk carioca falando sobre rebolado, sapatos de azul camurça, “pegar garotas”, “comer garotas” e outras grandes questões filosóficas da humanidade. Também não fazia ideia que que as músicas dos Sex Pistols ou do Green Day eram muito mais fáceis de tocar que os solos do Chimbinha. Para mim, o rock era uma forma de religião e salvação. Especialmente o punk que era a coisa mais próxima do rap que um jovem branco poderia alcançar. O punk era o rock feito por suburbanos rebeldes, uma trilha sonora perfeita para minha vida de adolescente sofredor. Antes de descobrir o punk, eu até gostava das coisas que meus pais ouviam em casa: Caetano, Gal, Rita Lee, Adoniran, Luiz Melodia, etc. Depois disso, passei a achar toda a MPB cafona, atrasada, piegas e ultrapassada.

A crítica de rock da época, que eu lia avidamente, pregava a mesma coisa. O grande André Barcinski (gosto dos textos dele até hoje) não tinha saco para a “bunda-molice da MPB”, Alvaro Pereira Jr, que escrevia na Folhateen e hoje é editor do Fantástico, dizia que as ÚNICAS coisas boas já feitas no nosso país eram Racionais, Mutantes e Sepultura. Detonar Caetano Veloso era moda desde a chegada do rock dos anos 80 e continua sendo o mote principal do, hoje senhorzinho, Lobão. Caetano, Gil e cia eram “afeminados”, “atrasados”, tinham “sótaque” e faziam um som “pobre”. A bossa nova era chata. Eu gostava de Chico Science, mas meus amigos roqueiros o desprezavam. Bons para meus colegas juvenis eram Guns, Aerosmith, Metallica, Oasis, Pearl Jam, Offspring… No máximo o “pop rock nacional” (que muitos críticos brasileiros também desprezavam) de Legião, Raimundos, Ultraje a Rigor, Charlie Brown Jr., etc.

Minha primeira resistência a esse pensamento foi o contato com o rap. Meus amigos roqueiros, mesmo os falidos, achavam Racionais uma merda. Eu achava foda. E ouvia, também, Planet Hemp, Sabotage, Thaíde e Dj Hum, etc. Vendo que tipo de colega ouvia cada coisa, rap era som de preto e rock de branco. Quando os Racionais sacanearam o Guns e o Barão em “Qual mentira vou acreditar” a coisa ficou mais explícita.

Chico Science & Nação Zumbi ajudaram a resgatar a negritude no pop nacional
Quando entrei na faculdade, encontrei muita gente que também gostava de Chico Science. Lá eu não precisava ter vergonha dos discos de Mangue Beat. E as pessoas também ouviam coisas que meus pais gostavam: Tim Maia, Jorge Ben, Cartola, Gilberto Gil… Todos negros! E até Caetano Veloso era apreciado, mesmo com seu cabelo black power, seu sotaque baiano, seu jeito feminino, suas músicas “devagar”. De repente, percebi que até os anos 80, o pop nacional era cheio de mulheres (Rita Lee, Elis, Elza Soares), negros (além dos já citados, Jair Rodrigues, Simonal, Djavan, Milton Nascimento e muitos outros), andróginos (Caê, Gil, Secos & Molhados), pobres (Cartola, Luiz Melodia, João do Vale), nordestinos (Zé Ramalho, Elba, Novos Baianos, Fagner) e gays (Gal, Bethânia, Angela Rô Rô, Ney Matogrosso, etc). Os músicos vinham da Bahia, Pernambuco, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais… e não só de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio, como as bandas de “pop rock” oitentistas. Os ritmos não eram só rock (apesar de existir muito rock, funk, soul, etc), mas, também, samba, baião, forró, etc. Tudo aquilo que eu havia aprendido que era cafona, brega, velho e ruim era, simplesmente, brasileiro. Eu aprendi que Djavan era uma piada, quando o cara estava gravando com Stevie Wonder. Aprendi que a bossa nova era um lixo chato, quando foi a música brasileira com maior alcance internacional. Que Caetano era ultrapassado quando os hipsters gringos dos anos 2000 o regravaram e redescobriram. Já o rock nacional dos anos 80 passou anônimo para o mundo, apesar de ser vendido como revolucionário por aqui. E, sinceramente, de moderno, ele nem tinha tanto já que as referências estava muitos anos atrasadas (Barão Vermelho cultuava Stones, Ira o The Who, Lobão disse que qualquer um que tenha ouvido Led Zeppelin não podia aguentar bossa nova, etc).

O pop nacional dos anos 60/70 tinha um pouco mais de “diversidade”

Minha tese aqui é de como o rock nacional dos anos 80 deixou a música brasileira mais “branca” e “careta” (não que todo roqueiro é nazista, he, he, he). Quem questionar esse ponto, por favor, liste 10 frontmans de bandas nacionais de repercussão dos anos 80 que eram negros ou nordestinos. Escrevo isso como alguém que ainda se considera um “roqueiro”. Que ama bandas, discos e clipes de rock. E que sabe que nos anos 90 a coisa ficou mais diversificada por aqui. (Se você pegar os anos 80 inteiros só vai encontrar o Renato Rocha, baixista da Legião, e o Clemente, vocalista do Inocentes, de negros no rock. Nos 90, tem a galera da Nação Zumbi, Planet, Rappa, etc.) Os ritmos nacionais foram reabilitados pela geração 90, mas não dá pra negar que, hoje, o “roqueiro true” é um tiozinho trancado em seu mundinho, acreditando que só aqueles 4 acordes (ou, ok, 367 acordes, no caso do Dream Theater) são bons. Se isso é ruim quando vemos a polêmica em volta do vocalista do Pantera, no caso do Brasil é patético. Estamos idolatrando pastiche ruim de coisas que foram relevantes lá fora anos atrás. Se eu tivesse que escolher entre NXZero e Tim Maia, Tihuana e Racionais ou Jorge Ben e Capital Inicial, nem preciso dizer de que lado ficaria, né?

Clemente (liderando os Inocentes), um dos poucos negros do rock nacional dos anos 80.

Amo meus discos, amo o punk rock, faço meu filho dormir ouvindo Sepultura, mas não posso negar que Seu Jorge estava certo e que os críticos de Phil Anselmo estão certos. O rock se tornou um senhor branco, arrogante, machista, conservador e bunda mole. E, no Brasil, a partir dos anos 80, ele ajudou a nos fazer ter vergonha da nossa cultura, dos nossos cabelos e dos nossos sotaques. Rock é legal, mas não é a música das “elites intelectuais do mundo” como gostaríamos de acreditar. E além do seu cercadinho de solos distorcidos e roupas pretas, existe uma tonelada de cultura e diversidade para ser escutada e descoberta.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Descobri da Pior Maneira Possível!

Descobri, e devo acrescentar que foi da pior maneira possível, que quando se tem insônia você nunca dorme de verdade e você nunca acorda de verdade. Já não sei com clareza distinguir se algumas coisas realmente aconteceram ou foram sonhos. Outro dia sonhei que acordava de um sonho e na verdade continuava dormindo, como saber se agora de fato estou acordado? Sempre tive uma atividade durante o sono muito intensa, além do normal em relação à maioria das pessoas, sonho muito. Acho que a minha insônia e os meus sonhos são manifestações da polaridade de querer sempre vigiar sem fim, mesmo na escuridão da noite, isso vez por outra me faz estar em atividade dentro do sonho, durante o sono.

Mas agora é diferente, agora durmo pouco ou quase nada, me sinto perdido, irritado, cansado, com a cabeça gritando de dor. Não dormir ou dormir com sobressaltos me parece alguma manifestação de um conflito interno do meu eu e sua discordância com os ritmos da natureza do mundo supostamente real. Digo supostamente real, porque como já disse a certeza do real nunca me pareceu tão incerta. Acho que agora entendo Descartes quando ele disse:

Todavia, devo aqui considerar que sou homem e, por conseguinte, que tenho o costume de dormir e de representar, em meus sonhos, as mesmas coisas, ou algumas vezes menos verossímeis, que esses insensatos em vigília. Quantas vezes ocorreu-me sonhar, durante a noite,que estava neste lugar, que estava vestido, que estava junto ao fogo, embora estivesse inteiramente nu dentro de meu leito? Parece-me agora que não é com olhos adormecidos que contemplo este papel; que esta cabeça que eu mexo não está dormente; que é com desígnio e propósito deliberado que estendo esta mão e que a sinto: o que ocorre no sono não parece ser tão claro nem tão distinto quanto tudo isso. Mas, pensando cuidadosamente nisso, lembro-me de ter sido muitas vezes enganado, quando dormia, por semelhantes ilusões. E, detendo-me neste pensamento, vejo tão manifestamente que não há quaisquer indícios concludentes, nem marcas assaz certas por onde se possa distinguir nitidamente a vigília do sono, que me sinto inteiramente pasmado: e meu pasmo é tal que é quase capaz de me persuadir de que estou dormindo. (DESCARTES, 1983. § 9-13)

Mas claro que tento diagnosticar os motivos disso tudo acontecendo comigo, e percebi que às vezes comia ou bebia muito e não dormia bem, outras vezes estava muito ansioso perdia o ar e virava a noite toda na cama. Percebi que sempre quando estava muito agitado vigiava demais a escuridão e perdia o sono. Mas o que tem me assustado agora parece ser o medo de cair no sono profundo e sonhar com algo que não quero ou não posso entrar em contato, isso tem sido o grande responsável por esse mal. Não sei se essa insônia é uma das amostras do stress menos mencionada quando estou ansioso e acordado. Não sei se estou esquecendo ou escondendo algo de mim mesmo.

O ideal seria então conseguir dormir. Contudo, nas poucas vezes que consegui cochilar a emoção do meu não-consciente emerge para a consciência através do tema do sonho, aparece então o centro dos conflitos da questão e da solidão que pareço estar afundado durante as madrugadas escuras. Nessa solidão do sonho lembrado sinto que existe dentro de mim um impulso vital, único e intransferível que ainda não sei identificar o que de fato é. 

Na realidade não sei se quero descobrir os motivos, as razões, não sei se isso importa, só queria que esses sintomas de inquietação intermitentes acabassem. Queria deitar e dormir em paz. Já li vários textos sobre o tema, e uns até romantizam a insônia, me desculpem, mas não há nada de romântico aqui. Só há dor e angústia, e um cérebro pensando tudo ao mesmo tempo, e tenho medo dos meus pensamentos. E por isso que estou escrevendo, pelo medo dos meus pensamentos que são muito maiores do que medo de minhas próprias palavras ou do que vocês vão pensar, sei que podem aceitar, reprovar, consertar ou ignorar. Podem até me chamarem de louco, mas assim eu escutaria uma voz, sozinho com meus pensamentos estou sempre, absolutamente surdo e mudo.